sábado, 27 de agosto de 2011

Os estranhos e inconstantes belos passos da espeleologia potiguar



Triste de quem pensa que a evolução, em qualquer plano, época ou
dimensão, avança sempre no mesmo ritmo ou direção. O mundo se
transforma misturando caos e ordem, gerando explosões e
calmarias que jamais serão compreendidas, em sua totalidade, pela mente
humana.
A construção de uma ciência (ou de uma arte, como preferem alguns)
também toma muito dessa filosofia. O conhecimento humano evolui em
passos estranhos. Ora se avança num sentido, ora noutro, um movimento
que, à semelhança do natural, está permeado de instabilidade. São as
estranhas e inconstantes explosões da alma e mente humana. Engana-se,
porém, quem pensa que inexiste beleza nesse movimento quase caótico. É
belo, pois seu destino não é ser reta, mas trilha sinuosa, uma vez que somente
pelas curvas adapta-se e vence os obstáculos do percurso. O destino da
espeleologia potiguar já oscilou muito, já vivenciou esses passos incontáveis
vezes. Destruiu-se. Renasceu. Impregnou-se no ar e contaminou pessoas. O
modo como evolui esse misto de arte, técnica e ciência, especialmente no Rio
Grande do Norte, tem em seu âmago as qualidades e defeitos das explosões e
calmarias, as quais se juntam para compor a evolução do próprio homem.
Neste contexto, há poucas verdades inabaláveis, porque a mente se
consome da própria mente e uma idéia se alimenta de outra. Porém,
inconteste é afirmar que se precisa escrever, que se carece no mundo de
debate, de registros, de pensamentos os quais sirvam de alimento a outros
pensamentos. Este número inaugural do boletim informativo da espeleologia
potiguar não é passo. É marca deixada como pegada. A pressão escrita na
poeira. Que conte pelo mundo as histórias dos sertões e das cavernas
brasileiras. Que tome não o destino do passo, mas a beleza de seu rastro, a
grandeza de evoluir por ser a trilha rasgada no desconhecido, as histórias de
homens e cavernas, o depositário do pouco que sabe o ser humano sobre os
caminhos da Terra. Que seja grande por ser lugar idéias. Que seja eterno por
guardar lembranças. Que seja belo por falar de cavernas. E quando a marcha
da evolução guiar os espeleólogos à escuridão, que seja combustível para
outras idéias, para lhes iluminar os passos nesses estranhos caminhos da
vida.
                                                                       Texto: Revista Lajedos

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